No livro de matricula dos imigrantes que deram entrada na Hospedaria do Estado de São Paulo na página 159, nossa família foi registrada com o destino final de Ribeirão Preto. Dos imigrantes a bordo do Vapor  Rio Pardo existe registro de chegada na Hospedaria em 17 e 18 de março de 1891. Associada essa informação com a certidão de nascimento de Mariana Buiatti, primeira dos filhos de Valentino e Magdalena a nascer no Brasil, situamos a região de Sertãozinho como primeira morada dos “Buiatti” em terras brasileiras.

Certidão de nascimento de Mariana Buiatti. O registro só foi feito quando ela já tinha 18 anos, pois iria se casar.

A região de Sertãozinho na ocasião ainda era distrito de Ribeirão Preto. Aqui vale uma adenda sobre o maior produtor de café da Região de Ribeirão Preto, o empresário alemão Francisco Schmidt, também conhecido como o terceiro Rei do Café. Nascido na Alemanha em 1850, emigrou com a família em 1858 para trabalhar nas lavouras de café na Região de São Carlos. Criado dentro da cultura cafeeira, associado ao seu empreendedorismo nato, o rei do café comprou em 1890, junto com o Coronel Arthur de Aguiar Diederichsen, a Fazenda Monte Alegre (atual Museu do Café em Ribeirão Preto)até então de propriedade de João Franco de Moraes Octávio. Arthur Diederichsen vendeu sua parte na fazenda, e Schmidt tornou-se o único proprietário. Com o financiamento da firma Theodor Wille e Co., comprou inúmeras fazendas nos municípios de Ribeirão Preto, Franca, Brodowski, Orlândia, Araraquara, Sertãozinho, Serrana, entre outros. Possuiu 30 fazendas, onde existiram, aproximadamente, 16 milhões de pés de café. Não possuímos nenhum registro que nossa família trabalhou para o rei do café, mas a probabilidade é grande, uma vez que naquela época, era ele o principal produtor de café naquela região.  Sabendo dessa possibilidade visitamos o museu da Cana no Pontal de Sertãozinho onde havia uma colônia de italianos que trabalharam para o Rei do Café. O local atualmente é o Museu da Cana, e fica localizado na Região do Pontal de Sertãozinho. Em 1905, Francisco Schmidt construiu uma usina de cana com material vindo de Glasgow na Europa. A produção era tamanha que foi construída uma linha ferroviária e uma estação para drenar a produção canavieira. A estação foi inaugurada em 25 de novembro de 1906.

Fotografia de onde era a região das casas de colonos onde hoje é o museu da Cana em Sertãozinho
Museu da Cana no Pontal de Sertãozinho
Foto da entrada do Museu da Cana com o seu curador Clark Alves

A chegada do imigrante para a zona de plantação do café ocorria por meio do transporte ferroviário, que foi vital para a colonização em massa daquelas terras no interior paulista. Na chegada de nossa família em 1891, a linha férrea saía de Santos, passava por São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e chegava até Uberaba. A estação de Uberabinha (Uberlândia) ainda não existia. A estação ferroviária de São Simão – SP foi inaugurada 16/08/1882,  de Ribeirão Preto foi inaugurada em 23/11/1883, a de Bonfim Paulista (Villa Bonfim) atualmente no município de Ribeirão Preto em 28/07/1892.

Em relação a fundação e emancipação dos municípios daquela região, pois as certidões de nascimento foram registradas em um período que ainda não existiam as cidades como são conhecidas atualmente, temos os seguintes dados:

  • Município de São Simão como sendo o mais antigo daquela área, que foi fundado em 28 de outubro de 1824.
  • Município de Batatais que tinha Jardinópolis como distrito, foi fundado em 1839.
  • Município de Sertãozinho emancipado em 05 de dezembro de 1896.
  • Município de Jardinópolis emancipado em 27 de julho de 1898.
  • Município de Ribeirão Preto tem uma adenda a parte, pois a região que se encontra hoje, e seus arredores foi destino de grande parte dos imigrantes italianos que foram para o interior paulista.

RIBEIRÃO PRETO

Cidade de importância para nossa família, pois foi em Sertãozinho, então distrito de Ribeirão Preto, que nossa família de instalou.  Aquela região em torno de Ribeirão Preto recebera uma quantidade imensa de imigrantes italianos. O Jornal Tribuna de Ribeirão Preto em 19 de junho de 2018 apresentou uma reportagem com os seguintes dados:

No Arquivo do Estado o primeiro anuário disponível é o de 1893, quando Ribeirão Preto recebeu 2.623 imigran­tes – não são especificadas as nacionalidades. No ano seguinte a cidade recebe 777 imigrantes. Em 1895 ocorre a primeira grande leva – 5.461 imigrantes. Não há dados ofi­ciais sobre o ano de 1896. Em 1897 Ribeirão Preto recebeu 3.763 imigrantes (contra 9.174 na capital, 4.742 em São Carlos do Pinhal e 3.880 em Campi­nas). Em 1898, chegaram a Ri­beirão Preto 1.775 imigrantes. No ano seguinte, 1899, foram 1.062 imigrantes. Na virada do século (1900) chegaram 1.313 imigrantes.

Em 1901 Ribeirão Preto já é a cidade paulista que mais recebia imigrantes – 6.297 dos quais 5.341 eram italianos. Na­quele ano, chegaram ao Estado 49.599 imigrantes – 40.943 eram italianos –, com passa­gens pagas pelo Estado. Ou­tros 2.600 italianos entraram no Brasil de forma espontâ­nea. Em 1902 Ribeirão rece­beu 3.066 (incluindo 2.212 italianos, 126 espanhóis, 226 portugueses), bem mais que a capital São Paulo (1.880). Em 1903 desembarcaram na cidade 698 imigrantes – 566 italianos (número reduzi­do por causa do decreto que cancelava o acordo entre Bra­sil e Itália). Em 1904 a cidade recebeu 1.721 imigrantes.

Algumas das famílias que vieram para Uberlândia, também passaram pela Região de Ribeirão Preto. No livro: Velhos Italianos de Uberabinha, do historiador e escritor Antônio Pereira da Silva cita que a família Zucchetti foi para Jardinópolis, a famílias Zanatta, Pazzini e Segatto foram para Cravinhos, as famílias Lozzi e Malagoni foram para Mococa, a família Gratton pela certidão de Ilídia Gratton foram para Santa Rita do Passa Quatro; e os Buiatti conforme certidões de nascimentos de Mariana, Josefina e Maria Assumpta, foram para fazendas entre Sertãozinho e Jardinópolis.

Fonte: www.emplasa.sp.gov.br

Ao chegar às propriedades rurais de destino, comumente já existiam colonos compatriotas que conheciam a língua portuguesa, assim como os costumes da região.  Estes compatriotas eram responsáveis por apresentar os vizinhos e fazendeiros da região, orientar os locais de missas e locais onde poderiam comprar utensílios e vender a produção. 

Um dos acordos de trabalho que mais se propagou na época em que nossa família chegou, foi o contrato de parceria. Implicava um acerto, pelo qual o fazendeiro cedia ao colono determinada área de sua propriedade, com o respectivo cafezal para ser cultivado, repartindo-se os resultados entre ambos, na proporção que fosse estipulada pelo contrato.

Imigrantes friulanos. Fonte: www.zampigrafia.blogspot.com

Nas terras onde trabalhariam no cultivo do café, a mudança de ambiente e clima era bem acentuada. Acostumados com clima frio e neve do Friuli, encararam o sol escaldante, insetos de toda sorte, animais peçonhentos e  selvagens. O bicho de pé era uma epidemia entre os colonos, que não possuíam o hábito de tomar banho diariamente.  A jornada de trabalho iniciava com os primeiros raios de sol e terminava com o pôr do sol, durando em média 14 hs diárias, durante os 7 dias da semana.

 Na região de São Paulo e Minas Gerais, o imigrante recebia auxílio para pagar a viagem, e as diárias eram gratuitas nas hospedarias, porém nas fazendas a situação já era mais hostil. Além de não receber adiantamentos para alimentação, ferramentas, sementes e outros insumos, muitos colonos não encontravam as prometidas casas provisórias e por vezes dormiam ao relento no chão do lote que lhes fora destinado, até construir um abrigo. Nos primeiros dias nos lotes, dependiam da solidariedade dos compatriotas que haviam chegado antes, para lhes fornecer um pouco de alimento.

Quando existiam casas para os imigrantes, eram mais afastadas da sede da fazenda e possuíam 1 ou 2 cômodos apenas. Eram muito rústicas, construídas de taipa ou pau-a-pique, sem banheiros e com chão de terra batido. O que se tinha naquela época, eram as fossas. As mulheres cuidavam dos animais, da horta, da colheita e cuidavam dos filhos. O trabalho pesado era destinado aos homens, e as crianças desde jovens já auxiliavam na colheita e beneficiamento do café. Resumindo, a situação aqui no Brasil não era muito diferente do norte da Itália. Logo no início já perceberam que as promessas feitas de ganhar dinheiro fácil no Brasil eram pura enganação.

No vídeo “Italiani in Brasile” abaixo, há a apresentação de uma carta de imigrante para sua mulher que ficou na Itália.

“Guabiroba, Brasile, Gennaio 1895.

Cara moglie, in America se credeva di trovare delizie della terra, cioè, lavorare poco e guadagnare molto, ma invece non è così. Al contrario, se lavora molto, guadagna poco e magna anche male. Al tempo d’oggi l’America non è più l’América. Qui la fortuna è ormai smarrita. I lavori vanno male. Ora sono sotto um’altro padrone. Mi tocca a lavorare com gerle sulle spalle su, per i monti come um musso. Alla mattina se comincia com le stelle e la sera torna a casa com le stelle. É da preferirsi stare in prigione in Italia, che in una “Fazenda” nel Brasile.”
Guabiroba, Brasil, Janeiro de 1895.

Cara esposa, na America se acreditava de encontrar as delícias da terra, isto é, trabalhar pouco e ganhar bem, mas não é assim. Ao contrário, se trabalha muito, ganha pouco e se come muito mal. Nos tempos de hoje, a America não é a mesma América. Aqui a boa sorte desapareceu. Os trabalhos vão de mal a pior. Agora estou trabalhando para outro patrão. Me obriga a trabalhar com cestos nas costas subindo montes como um burro de carga. De manhã se começa com as estrelas e a noite volta-se pra casa com as estrelas. Era preferível estar em uma prisão na Itália, do que em uma Fazenda no Brasil.”

A relação de trabalho entre os fazendeiros e colonos era um sistema adotado como intermediário entre a escravidão e o trabalho livre. Mal protegido pela legislação que não garantia ao colono liberdade, segurança e acesso à propriedade, com deficiências que comprometiam o seu funcionamento. As partes contratantes defrontaram-se desde logo com um conflito de interesses, marcado pela mútua desconfiança. O colono partia do pressuposto de que o fazendeiro aproveitava-se de todas as operações de pesagem, contagem e venda, para levar vantagem. Os fazendeiros habituados a tratar com os escravos, a quem forçavam a longas jornadas de trabalho diário, aplicaram de certa forma o mesmo tratamento, com custo mínimo para sua alimentação, vestuário e alojamento, além de controlar a movimentação das famílias, já que a evasão dos colonos significava prejuízos financeiros.

Do lado dos fazendeiros, queixavam-se dos colonos por supostamente trabalharem mais em suas pequenas plantações, do que nos cafezais. Na região de Ribeirão Preto e seus arredores, a família Buiatti ficou até 1898 aproximadamente. Pois Maria Assumpta nasceu em 15 de julho de 1897 no distrito de Ribeirão Preto, chamado Jardinópolis, e Pedro Buiatti nasceu em 26 de julho de 1899 na região de Sobradinho em Uberabinha.

Para Uberabinha muitas famílias de colonos foram recrutadas pelos fazendeiros, proporcionados pela chegada das estações ferroviárias em Uberabinha em 1895 e Sobradinho em 1896. Dentre elas como já citado, vieram os Zucchetti, Zanatta, Gratton, Segatto, Lozi e Malagoni. Para explicar os prováveis motivos da mudança para região de Sobradinho descrevemos um capítulo a parte, que se desenvolve a seguir.

INCENTIVO A IMIGRAÇÃO NA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO

Antes de começar este capítulo, gostaria de explicar sobre a nomenclatura antiga no município de Uberlândia, que foi onde nosso patriarca resolveu se estabelecer, criar sua família e morrer.  Até 1852 existia um arraial, que atualmente se localiza o bairro do Fundinho, e se chamava arraial de Nossa Sra. do Carmo de São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha.  A partir de 1852, a região passa a se chamar de São Pedro de Uberabinha.

Graças ao primoroso livro do advogado Sr. Oscar Virgílio Pereira titulado “Das sesmarias ao pólo urbano: Formação e transformação de uma cidade” obtivemos acesso a informações de grande valia para este tópico de nossa obra.

No fim do século XIX, Uberlândia se chamava São Pedro de Uberabinha, e era distrito do município de Uberaba até 31 de agosto de 1888, quando conseguiu sua emancipação. O nosso distrito fazia parte do 15° distrito eleitoral de Minas Gerais. O projeto de lei de número 341 de 11 de julho 1888 foi proposto pelo Deputado Provincial de nossa região, o Sr. Augusto Cézar Ferreira e Souza, que foi um Deputado Republicano de grande valor para Uberlândia, pois após emancipação do município, foi eleito agente executivo na organização do recém-criado município. 

Na ocasião de apresentação do projeto de lei 341, o então Deputado Provincial propôs mudanças nas leis antigas de imigração da Província de Minas Gerais, pois não contemplava os interesses de toda a província, e sim de apenas uma Zona eleitoral. E a atração de imigrantes para nossa região precisava de criação de núcleos coloniais, linha ferroviárias e hospedaria de imigrantes na área, pois a hospedaria em nossa província era Juiz de Fora, que ficava a 720 Km de distância dos municípios representados por nosso ilustre deputado (Sacramento, Araxá, Patrocínio, Bagagem, Uberaba, Prata, Carmo do Paranahyba, Monte Alegre e outros). O projeto solicitava o seguinte:

Art. único: O governo da província mandará fundar um núcleo colonial no lugar que mais conveniente for, entre a estação da Jaguara (Jaguara era uma estação ferroviária no distrito de Sacramento) e cidade de Uberaba, ferrovia da mogyana.

§ único: Além dos edifícios respectivos, mandará fazer um barracão para alojamento dos immigrantes que forem destinados aquella zona, ficando para isto autorisado a fazer operações de credito até a quantia de 100.000$000 (100.000 conto de réis) ; revogadas as disposições em contrário.

Sala das Sessões, 11  de julho de 1888.

O presidente da província de Minas Gerais (Atualmente o Governador do Estado de Minas Gerais), obteve liberação no orçamento de 1889, para gastar até um conto de réis (1000 mil réis) para:

“Auxiliar com a quantia de 100$000 por cada casa construída pelos lavradores para alojamento de família de colonos nacionais ou estrangeiros localizados, sendo as edificações feitas de conformidade com o plano que deverá ser organizado pela inspetoria da imigração”

O incentivo aos fazendeiros ficou apenas na idéia, porque logo após o orçamento, a Inspetoria de Imigração mineira foi extinta, e a hospedaria de imigrantes no Triângulo Mineiro não chegou a ser criada.

Em 1893 foi editada a Lei n° 32, autorizando o presidente do Estado (notem que após a proclamação da República em 1889, a província passa a ser chamada de Estado), a promover a imigração de trabalhadores, mediante a concessão de diversos favores. O incentivo parecia com a “ imigração subvencionada” de São Paulo, mas com adaptações à realidade mineira.

“Junto dos grandes proprietários, os colonos possam tornar-se pequenos proprietários de lotes nunca inferiores a 25 hectares de terras de cultura e 50 hectares de campo para cada família”

Artigo 3° da Lei n°32, sobre os agentes nacionais ou estrangeiros que atraíam os imigrantes europeus:

  1. Este agentes poderão ser nacionais ou estrangeiros que tornem conhecidas as riquezas naturais do país, amenidade do clima, indole pacífica de seus habitantes e todas as vantagens que o imigrante europeu possa obter preferindo o território do Estado para seus estabelecimentos.
  2. As repartições serão encarregadas da recepção do imigrante e sua localização, dando-lhe praticamente, como mais conveniente for, algumas noções sobre os sistemas de agricultura mais usuais e sobre os costumes do país.
  3. As camaras municipais serão intermediarias dos pedidos de trabalhadores ou colonos que necessitarem os fazendeiros ou empresas agrícolas.

O regulamento desta Lei 32 tinha alguns elementos discriminatórios, que somente teriam direito e favores desta lei:

“Famílias de agricultores cujos chefes não fossem maiores de 50 anos; homens solteiros com idade mínima de 18 anos e  e máxima de 50 anos, que fossem trabalhadores agricolas.

Operários de artes mecânicas ou industriais, artesãos e profissionais de serviços domésticos com idade entre 18 e 50 anos”

Pessoas enfermas ou com defeitos físicos só teriam direito a passagem de navio até a colônia designada, se pertencessem a famílias com pelo menos duas pessoas sadias e válidas.

Para implantação das colônias, o artigo 42 estabelecia o seguinte:

“ Todo proprietário territorial que desejar colocar imigrantes europeus em sua propriedade fica com direito a favores do presente regulamento, obrigando-se:

1º a fazer registro de sua propriedade perante a repartição de terras;

2º a dividir a propriedade territorial em lotes nunca inferiores a 25 hectares de terras de cultura e 50 de campo para cada família, convenientemente providos de água e de alguma mata para os misteres domesticos, contendo as necessárias picadas ou caminhos vicinais para se comunicarem entre si e com a estrada geral existente;

3º a construir casa provisória para a residência do colono, conforme tipo que for ministrado pela repartição de terras e colonização;

Para colonias com pelo menos 50 famílias, cada residencia construida receberia 250 mil reis do governo do estado;

As empresas industriais que construissem colonias com pelo menos 200 familias, receberiam, além do auxílio para construção de casas, mais um conto de réis (1000 mil réis) por quilômetro de estradas de rodagem construídas para acesso à ferrovia mais próxima;

Se a colonia fosse construída em terras devolutas do Estado, com mais de 500 famílias, além desse auxílios o empreendedor teria mais 800 mil réis para cada quilômetro de estrada vicinal construida.”

Com esta lei, em que o imigrante ganhava 75 hectares (750.000m²) de terra pelo menos, convidava o colono a permanecer na região e trabalhar para o fazendeiro local, por consequência, recebia uma pequena porção de terra para cultivar uma lavoura para a subsistência de sua família. 

Sobre a aquisição dos lotes e o modo de pagamento, o artigo 53 dizia o seguinte:

Os lotes contendo uma casa provisória, de valor não inferior a 250 mil réis, conforme o tipo aprovado pelo governo serão vendidos a imigrantes com família, pelo preço máximo de 25 mil réis por hectares em terras incultas, ou 50 mil réis estando as terras cultivadas. Nestes preços não está incluído o preço da casa provisória.

O pagamento será feito por prestações anuais, a contar do primeiro dia do segundo ano do prazo, que não será maior de dez anos, adicionando-se à importância de cada prestação o juro excedente a 9% ao ano.

Art.55 – O imigrante receberá, no ato de seu estabelecimento, um título provisorio de sua propriedade, no qual serão lançados, com o preço do lote, os adiantamentos que receber. Neste mesmo titulo estarão igualmente registrados os pagamentos que forem efetuados. Logo que terminarem os pagamentos devidos pelos imigrantes, será este título trocado por outro de caráter definitivo, onde lhe seja dada plena quitação e se achem indicadas todas as vantagens do Sistema Torrens estabelecidas no Decreto nº 451 B, de 31 de maio de 1890”.

No papel, as lei eram muito atrativas para os fazendeiros, que estavam perdendo suas lavouras por falta de mão de obra, e também para os colonos que poderiam comprar uma pequena propriedade de 100 hectares por 2.500 réis.

Considerando que em 15/11/1889 o menor salário a um trabalhador sem formação era de 25.000 réis, e o salário de uma professora primária era de 45.000 réis, adquirir uma propriedade pequena que fosse de 100 hectares, custaria 2.500 mil réis ou 2 contos e 500 mil réis, não seria um mal negócio. Desta forma também atrairia os imigrantes para Uberabinha. 

A chegada de nossa família na região, certamente foi incentivada por estas características. Linha ferroviária, “facilidade” maior em se adquirir uma propriedade e estímulo por parte de propaganda originada pelos fazendeiros na região do Triângulo Mineiro.

Imaginar as situações que motivaram a mudança da região de Ribeirão Preto para a região de Uberabinha (Uberlândia) são muitas, mas a hipótese mais plausível, é que havia descontentamento e falta de esperança naquelas terras. Ao saldar as dívidas com os fazendeiros contratantes, muitos imigrantes tentaram uma vida mais digna em outras terras.

A chegada dos imigrantes a Uberabinha, só seria possível através de uma linha ferroviária que os trouxesse de maneira mais eficiente. Diante disso, podemos afirmar que a chegada dos trilhos pela Linha do Catalão construída pela Cia da Mogyana de Minas Gerais foi decisiva para a chegada da mão de obra européia no Triângulo Mineiro. A linha do Rio Grande foi inaugurada em seu primeiro trecho em 1886, e após 2 anos chegava a Rifaina, onde cruzava o Rio Grande e mudava o nome para Linha do Catalão, e chegou a Uberaba em 1889. A linha do Catalão inaugurou a estação de Jaguara no município de Sacramento-MG em 05/03/1888, Sacramento em 23/04/1889, Conquista em 23/04/1889, Engenheiro Lisboa no município de Conquista em 23/04/1889, Peirópolis no município de Uberaba em 23/04/1889, Uberaba em 23/04/1889,  Uberabinha em 21/12/1895, Sobradinho em 15/11/1896, Araguari (sem completar os trilhos) em 15/11/1896.

Aqui vale uma adenda sobre a linha ferroviária que trazia e levava notícias de Uberabinha para Ribeirão Preto, e também sobre um dos primeiros agricultores italianos em Uberabinha, o Sr. José Camin. De acordo com o livro de Antônio Pereira da Silva “Velhos Italianos de Uberabinha”, ele chegou primeiramente na região de Mococa e posteriormente ajudou na construção da linha ferroviária até chegar a Uberabinha. Ele se instalou na região e iniciou trabalho como agrimensor, adquiriu terras na região de Sobradinho (Município de Uberabinha) e trabalhou na agricultura com café e abacaxi. Era o José Camin, segundo os antigos colonos italianos, quem recebia as famílias e cedia os primeiros alimentos e orientações para se instalarem na região.

Os “Buiatti” vieram para a região de Sobradinho entre 1897 e 1899 , e se assentaram em terras entre o Córrego do Bebedouro e o Córrego das Moças. As imagens abaixo mostram o mapa do município de Uberlândia onde situa a região de Sobradinho, que possuía até estação ferroviária para escoar a produção.

Fonte: www.researchnet.org

O município de Uberabinha era dividido em quarteirões, um deles era o de Sobradinho, para melhor entender a região, vejamos o mapa atual do município e seus distritos.  A região de Sobradinho está localizada no mapa abaixo representada pela região com listras transversais abaixo de Cruzeiro dos Peixotos.

Na próxima figura está a bacia do córrego do Bebedouro, tão bem estudado e descrito na tese de mestrado da geógrafa Carla Rodrigues Santos pela Universidade Federal de Uberlândia em 2008. A imagem abaixo foi retirada de sua tese. O rio pintado de azul, onde os Córregos do Bebedouro e Das Moças desaguam, é o Rio  Araguari (também chamado de Rio das Velhas) ao norte de Uberlândia.

Fonte: www.repositorio.ufu.br
Foto própria de 2008 com o Sr. Aldair Alvares, amigo da família às margens do Córrego das Moças.

O produto principal cultivado pelo nosso patriarca e filhos, era o café. Pudemos comprovar a afirmação com os dados de lançamento do Imposto sobre Indústrias e Profissões pela Coletoria Estadual de 1916, que foram publicados no livro “Velhos Italianos de Uberabinha”. A produção do café era escoada para Araguari, através da linha ferroviária da Mogiana, onde este era beneficiado. Das fazendas até a estação ferroviária de Sobradinho, os produtos cultivados eram transportados por carros de boi.  De lá eram distribuídos e comercializados em Uberabinha (Uberlândia), Araguari, Uberaba e Ribeirão Preto.

Abaixo as fotografias da região da Fazenda dos Buiatti registradas por Flávio Malagoli buiatti em agosto de 2008. A cabeceira (nascente) do Córrego das Moças ficava dentro da propriedade da família Buiatti.

Em 1898, a cidade de Uberabinha possuía apenas 10 anos de emancipação e estava em uma posição privilegiada em função de sua posição geográfica central no país. A produção era escoada para o estado de São Paulo pelas ferrovias, e os produtos que os colonos produziam em seus lotes (verduras, açúcar, arroz, suínos, aves, madeira, etc) eram levados para o Lago do Comércio em Uberabinha para ser trocados por instrumentos agrícolas, tecidos, utensílios domésticos. O largo do Comércio se localiza onde hoje é a Praça Doutor Duarte, onde se localiza o Colégio Estadual Enéas de Oliveira Guimarães no Fundinho.

São Pedro de Uberabinha cresceu, e  em 1929 passou a se chamar Uberlândia e grande parte da família permaneceu aqui. Valentino Bujat teve 9 filhos, 2 com Maria Tuliani sua primeira esposa e 7 com Maria Maddalena Gherbezza sua segunda esposa. Dos filhos, 5 nasceram em Aielo del Friuli na Itália (Rosa Buiatti, Francesco Buiatti, Antonio Buiatti, Giovanni Buiatti e Valentino Buiatti) e os outros 4 nasceram no Brasil (Mariana Buiatti, Josefina Buiatti, Maria Assumpta Buiatti e Pedro Buiatti). Uberlândia é hoje, junto com Ituiutaba, Ipiaçu e Anápolis, os locais de maior concentração dos membros de nossa família.

5 comentários em “Capítulo 05 – O Assentamento em Terras Brasileiras

  1. Maria de Fátima Arruda Lobo Responder

    Dá para imaginar a vida difícil que eles tiveram naquela época! Estou achando ótimo conhecer a história dos meus antepassados.

    • Flavio Malagoli Malagoli Responder

      Sim Prima. Sou muito grato por termos uma situação melhor que a deles, graças aos sacrifícios que realizaram em prol da família.

  2. Ana Paula Esteves de oliveira Responder

    Cada capítulo deste livro tenho ainda mais orgulho dos meus tataravos que passaram por tantas dificuldades para que hoje estarmos aqui,gratidão por nos dar a oportunidade de conhecer está parte da história de nossos antepassados.

  3. Gleice Naianne Rodrigues Responder

    Estou encantada em conhecer , a historia dos meus tataravôs e bisavós .

    • Flavio Malagoli Malagoli Responder

      Oi Gleice. Nossa história é muito interessante, por isso quis compartilhar com toda essa imensa família.

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