FATORES QUE CONTRIBUIRAM COM A EMIGRAÇÃO DO POVO ITALIANO DE SUAS PROVÍNCIAS NA PRIMEIRA FASE DA GRANDE EMIGRAÇÃO
A decisão da migração é um processo gradual, tomada com muita ponderação por uma família ou um indivíduo. Não se dá em prazo de dias ou semanas, mas sim de anos de decepção, desapontamentos, fome, doenças de repetição, enfim, da perda da esperança de um futuro mais certo. O breve histórico que se segue explica porque as guerras de independência da Itália foram o motor do empobrecimento extremo da região norte do país, e por consequência desencadeou a emigração em massa principalmente para as Américas.
A deterioração mais radical da qualidade de vida na Itália setentrional, que já não era das melhores, começou com a Primeira Guerra de Independência em 1848 entre o Reino da Sardenha e o Império Austríaco. Naquele período a Itália ainda não existia como nação e o território era dividido em reinos. O Reino da Sardegna compreendia naquele tempo as regiões onde atualmente são a Sardegna, Piemonte, Valle D’Aosta e Liguria.
O Império Austríaco se formou em 1804, após as Batalhas Napoleônicas que esfacelaram o antigo Império Sacro Romano, era constituído pelos territórios que hoje se encontram a Áustria, Croácia, República Tcheca, Eslovênia, Hungria, Bósnia Herzegovina, Romênia, Região sul da Alemanha, Sul da Polônia e as Regiões da Itália: VENETO, LOMBARDIA, TRENTINO ALTO ADIGE E O FRIULI. Importante, termos noção de que o Friuli, quando a família Buiatti saiu de lá, era território dominado pela Áustria.
Na Primeira Guerra de Independência, o líder do Reino da Sardenha era o Rei Carlo Alberto di Savoia contra o General Austríaco Josef Radetzky, que possuía autonomia nas regiões da Itália, e não dependia das decisões de Viena. Carlo Alberto resolve invadir os territórios do norte após uma revolta na cidade de Milão, então sob o domínio austríaco, em uma tentativa de evitar uma rebelião dentro de suas próprias terras. O Reino da Sardenha reuniu em torno de 65 a 115.000 homens contra 65.000 austríacos. Ao final das hostilidades em agosto de 1849, os austríacos venceram a guerra, e o Rei Sardo assinou amistício com os austríacos, perdendo as regiões de Lomellina e Alessandria no Piemonte.
Nosso antepassado Valentim nasceu neste contexto tumultuado em território austríaco. O Friuli Venezia-Giulia, terra originária de nossa família, fazia parte do Reino Lombardo-Veneto que estava sob o domínio dos austríacos e permaneceu ainda desta forma, pois os Sardos perderam a Primeira Guerra de Independência. Para agravar ainda mais a situação de descrença, a chegada de soldados austríacos e russos ao norte da Itália, contaminados com o vibrião da cólera, espalharam uma epidemia dessa doença que atingiu de sobremaneira a Lombardia, o Veneto e o Friuli. Após essa epidemia de cólera de 1848 a 1849, tiveram mais dois surtos em 1854 a 1855; e 1865 a 1867. O número de mortos causado pela guerra e pela epidemia de cólera não foi bem registrado, mas estima-se que o Reino da Sardegna perdeu entorno de 115.000 homens.
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Mapa da Região de Friuli Venezia Giulia na Itália atual. Nas Guerras de Independência Italianas, o Friuli fazia parte do território Austríaco. Fonte da imagem: http://italiahoteis.com.br/pt_BR/destinos/friuli-venezia-giulia/
Se não bastasse todos esse flagelos que atingiram o norte da Itália, houve a Segunda Guerra de Independência, que começou em 27 de abril de 1859 e terminou em 12 de julho de 1859. Nesta guerra, o Reino da Sardegna contou com ajuda dos franceses após o Acordo de Plombières firmado em 21 de julho de 1858, para combater os austríacos novamente. O rei da Sardegna nesta ocasião era Vittorio Emmanuelle II que contou com ajuda de Giuseppe Garibaldi (o mesmo que lutou ao lado dos gaúchos na Revolução Farroupilha em 1838) e Napoleão III da França.
A batalha se iniciou com a invasão austríaca após o Reino da Sardenha se recusar a desmobilizar suas tropas nas fronteiras. Com o fim dessa guerra, o Reino da Sardegna anexou os territórios da LOMBARDIA-VENETO, PARMA, MODENA, E AS REGIÕES DA ATUAL EMILIA-ROMAGNA (BOLOGNA, FORLÌ, FERRARA E RAVENNA). O Trentino Alto Adige e uma parte do Friuli (incluindo a cidade de Aiello del Friuli), continuou em poder dos austríacos. Os sardos cederam aos franceses que foram seus aliados, a região de Nizza e da Savoia na divisa com a França.
O final desta guerra teve um impacto muito grande para os italianos, porque ao seu fim em 1861 consolidou-se o Reino da Itália, composto pelos territórios do Reino da Sardegna, do Reino das Duas Sicilias e dos estados centrais (Ducado de Parma e Piacenza, o Ducado de Modena e Reggio, o Granducado da Toscana e a Romagna pontificia) que votaram a favor de se unirem aos reinos citados em um plebiscito que ocorreu em 1860. Em 1861 nasce o Reino da Itália sob o comando de Vittorio Emmanuelle II.
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Foto acima das tropas dos “Bersaglieri” atacando os austríacos.
Fonte: https://it.wikipedia.org/wiki/Prima_guerra_d%27indipendenza_italiana
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Essas guerras que se travaram dentro dos territórios do norte agravaram mais a situação de penúria de nossos ascendentes. O crescimento demográfico e o desemprego eram tamanhos, que o único alimento que os lavradores podiam comer era a polenta. Hoje em dia os italianos do sul, apelidaram os do norte como “polentones”, pois a maioria dos pratos era derivada do milho. Carne de vaca era uma utopia e os derivados do leite eram reservados para a comercialização. Os lavradores do Veneto e Friuli eram pequenos proprietários ou trabalhavam como meeiros nesta época, e ficavam subjugados pelos grandes proprietários de terra, que faziam o preço dos produtos do pequeno proprietário ficarem muito baixos. Os pequenos produtores (contadini) se viam em uma situação tão deplorável que aceitariam qualquer alternativa para saírem do desespero em que se encontravam, e estimulados por uma propaganda de que a América seria a resolução dos sofrimentos, começaram a se decidir em emigrar. Os fatores que mais contribuíram para a extrema pobreza foram: crescimento populacional, desemprego, guerras e epidemias.
BIBLIOGRAFIA:
- Página da internet: https://it.wikipedia.org/wiki/Prima_guerra_d%27indipendenza_italiana
- Bevilacqua, Piero; De Clemente, Andreina; Franzina, Emilio – STORIA DELL’EMIGRAZIONE ITALIANA I. PARTENZE, Donzelli editore, Roma, 2009.